Crítica de Heroínas na História
Fotos por Leekyung Kim
Leia na íntegra a crítica escrita pelo jornalista Gustavo Sumares sobre o espetáculo Heroínas na História, visto durante temporada no Complexo Cultural da Funarte, em julho de 2023, em São Paulo.
Por Gustavo Sumares
Num momento em que o Brasil começa, embora a passos lentos, a lidar com a desigualdade de gênero em sua história, o resgate de figuras como Maria Filipa e Margarida Maria Alves é extremamente importante — ainda mais para a nova geração. É nesse contexto que Heroínas na História se insere, e se destaca.
A peça conta a história de cinco mulheres importantes da história brasileira. Quatro delas são figuras relativamente proeminentes, como as duas já citadas; a quinta, por sua vez, traz uma surpresa e acrescenta mais um toque emocionante à conclusão do trabalho.
As realizações de cada uma delas são narradas de maneira cativante por Litta Mogoff, também autora do texto. A variedade de personagens torna o texto bastante dinâmico, e sua linguagem é simples e direta (com breves e divertidas consultas ao “Gugo” quando surgem palavras incomuns).
Sua expressividade sustenta com maestria os 45 minutos da peça, nos quais ela é auxiliada pela sonoplastia excelente de Letícia Elisa Leal. Com uma variedade imensa de instrumentos, objetos e outros recursos, ela traz ainda mais vivacidade à narração e cria um espetáculo visual à parte.
Também acompanham Litta, no palco, uma série de bonecos adoráveis, e um cenário impressionante composto por livros enormes, que ajudam a entrar ainda mais na história. As bonecas, por sua vez, dão um rosto amável às heroínas retratadas.
Embora seja uma peça infantil — e seja, de fato, extremamente adequada para esse público — Heroínas na História também é mais do que isso. É uma obra que consegue, de maneira lúdica e incisiva, colocar em questão a maneira como nos reconhecemos enquanto país.
Com humor, ânimo e uma abundância de afeto, ela contribui para superar o apagamento das mulheres na história brasileira: assunto de gente grande. Tratado, porém, com a maturidade devida, e ao mesmo tempo com a curiosidade e empolgação típica das crianças.